sábado, 15 de outubro de 2016

A distorção da Escola de Princesas

Na quinta feira (13), me deparei com compartilhamentos e comentários sobre uma nova escolinha voltada para meninas. Tratava-se de uma matéria divulgada pela página do O Estadão no facebook, sobre uma nova filial da Escola de Princesas em São Paulo. Criada em 2013, a escola foi fundada pela psicopedagoga Nathalia de Mesquita, em Uberlândia (MG). 

Confira o vídeo: 




Dei o play já com o pé atrás, os comentários diziam que a escola era um retrocesso. Nos primeiros minutos do vídeo o retrocesso se confirmou. Para a mãe de uma das alunas, "Ela desde criança saber que existem papéis que cabem a ela com um toque feminino, que são os detalhes, é ótimo ...". Em outro momento a mãe diz: "... eu acredito que ela não vai dividir grandes tarefas com o marido, porque ela vai pedir que o marido compre aquela flor ...". 
Minha reação: NÃO ACREDITO! 


No discurso da idealizadora (Nathalia), o objetivo da escola é formar meninas independentes, que aprendam a se vestirem sozinhas (ok), saibam noções de etiquetas (ok), acreditem no seu potencial (ok), e saibam como cuidar e administrar uma casa (ooooi?). Estamos falando de crianças com idade inicial de quatro anos. A faixa etária das alunas se estende até aos 15 anos de idade.

Logo me veio a estranheza, o incômodo, por vários fatores:

1- Por que uma menina de quatro anos precisa se preocupar em cuidar de uma casa, e pensar no marido que ela nem sabe se quer ter? 
2- Porque somente meninas nesse curso?
3- É Desesperador saber que tem pai e mãe querendo educar suas filhas em um tipo de fôrma ideal, sem ao menos considerar suas escolhas e preferências surgirem. 
4- Ficou claro o retrocesso na luta feminina em quebrar estereótipos e padrões do que significa ser feminina e bem sucedida. 
5- Definitivamente não estão criando princesas e sim robôs. 

Bem, a escola acabou gerando completa distorção sobre a ideia de ser uma princesa. Como se já não houvesse bastante preconceito em torno disso. São instantâneas as características que são veiculadas quando falamos sobre princesas. Delicadeza, romantismo, preferências por objetos, roupas e acessórios cheios de glamour e requinte. Contudo, hoje novas personalidades são inseridas ao se tratar de princesas, pelo menos por parte da Disney. 

Não é mais obrigatório que as princesas sigam o perfil feminino "Bela, recatada e do lar". De acordo com a Disney, ser princesa é ser real, é ser você, imperfeita.




Enquanto a maior disseminadora do perfil "princesa" luta para romper limitações, a Escola de Princesas quer repassar lições antiquadas, de um mundo cheio de proibições para mulheres. 

Pergunto-me se ignoraram as animações como Mulan, Valente (Merida) e Frozen (Anna e Elsa), onde é anunciado o perfil 
atual de princesa, sendo ela guerreira, independente, atrapalhada e descobrindo o modo de ser feliz consigo mesma, respectivamente. Ou mesmo se ignoraram o que vem sendo propagado sobre as princesas mais clássicas da Disney, onde entra em cena a identificação com a personalidade de cada uma delas, ao invés dos acontecimentos mágicos e casamentos com príncipes. 




Sendo assim, o ideal à Escola de Princesas: primeiro de tudo não ser só para meninas, incluir os meninos é no mínimo justo. Cabe uma reciclagem nos seus conceitos, uma reestrutura no que é ensinado. Já que é para ter referências na realeza e inspirar liderança, poderia ter aulas de cidadania, política, artes, atividades como equitação, arco e flecha, auto defesa, bons tratos com os animais, junto com as tradicionais aulas de etiqueta, dança de salão, costura e culinária. Me parece tanto maravilhoso quanto utópico pensar nessa iniciativa, mas, com isso a escola teria grandes chances de sucesso. 

Para nós, fica a reflexão: Ser princesa não significa ser submissa. Mulheres foram feitas para brilharem cada uma à sua forma. É tudo permitido SIM. A escolha é nossa. Se a menina se sente bem amando o mundo das princesas, não há mal algum, assim como não tem problema se ela não se identificar com esse mundo "encantado". Absurdo e revoltante é limitar as ambições femininas em favorecimento de costumes sexistas.

Já diz a música (poesia de Facebook e Instagram) "Você é do tamanho dos seus sonhos", e todos te devem respeito por isso! 

Você pode conferir a matéria completa do O Estadão, e entrevista com a fundadora da escola, aqui .

Ps:
1- peço desculpas se o texto ficou longo, precisei contextualizar tudo que veio na minha mente.
2- esse post não estava previsto para ser a estreia do blog, ainda não arrumei tudo por aqui, mas achei uma ótima oportunidade para sugerir como vai ser o tipo do nosso conteúdo :) 


Sejam bem vindos (as) <3

Bjs, e até a próxima! 

2 comentários:

  1. Já tinha visto a Filha de Silvio Santos propagar está ideia, desde o início achei tão sem noção, uma ideia que se nota querer mudar a autonomia real da mulher.
    Não se precisa de escola preparadora para mulheres serem mulheres, precisa-se mesmo é de Escola para os Homens serem verdadeiros Homens. Assumindo Filhos, dividindo tarefas de casa e dando valor a Família.

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  2. Exatamente! Pra que escola ensinar a arrumar a casa enquanto as mulheres já são cobradas a isso desde que o mundo é mundo?
    Cuidar da casa é uma questão de sobrevivência e não de ser uma princesa. Inovador seria ensinar para os meninos desde a infância que são iguais as meninas, em relação à direitos e deveres.

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